“Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a
Nossa dizimação e extinção total, além de enviar
vários tratores para cavar um grande buraco para
jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso
pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta
decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa
morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito
Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto
que decidimos integralmente a não sairmos
daqui com vida e nem mortos.”
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Nossa dizimação e extinção total, além de enviar
vários tratores para cavar um grande buraco para
jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso
pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta
decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa
morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito
Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto
que decidimos integralmente a não sairmos
daqui com vida e nem mortos.”
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O drama vivido pelos índios Guaranis Kaiowás no sul do Mato Grosso do Sul, está na ordem do dia. Nesta tribo, localizada à beira do rio Hovy e da qual ainda restam 170 membros (50 homens, 50 mulheres, 70 crianças), a pobreza e a delimitação territorial cada vez mais restrita, causam uma verdadeira pressão social que resultam na incidência de alguns casos de suicídio. O sentimento de desespero e a angústia presentes na carta publicada pela tribo, expressa a barbárie imposta pelo poder armado dos grandes latifundiários e a ordem de despejo da Justiça Federal de Naviraí. Tal etnia que conta com quase 50 mil pessoas, é a segunda maior do Brasil e, mesmo sobre um grande risco de dizimação, não ouvimos nada nos grandes veículos.
Índio no Brasil só se vê na mídia quando é dia do índio ou nos programas em que se “desbrava a natureza”, mostrando a cultura desse de forma cada vez mais animalizadas. Mostra-se singelas e literárias reportagens de escolas do meio urbano e suas homenagens a esse que já se parece apenas um ser mítico, personagem histórico e distante de nosso folclore nacional. Do jeito que se fala nem parece que índio ainda é coisa do presente. Sim, nem todos estão mortos ou se renderam à “civilização”. Muitos ainda vivem, mesmo que com dificuldade, da terra que lhes é negada.
Ajujures, Arauetés, Kampas, Aticums, Curipaco, Coroados, Carijós, Jurunas, Kadiwéus, Kanelas, Xambioás, Cariri-xocós, Kuikurus, Matipus, Guaranis Kaiwás entre tantos outros tribos, representam resistência de um povo e são exemplos da luta e de resistência de uma população que sofre com a opressão de cinco séculos. Estão durante todo este período mergulhados em uma luta desigual. O capitalismo latifundiário sempre contou com as melhores armas, incluindo a omissão das autoridades públicas e a apatia racional da grande imprensa. A historia continua a mostrar, com o exemplo atual dos Guarani Kaiowás, que essa realidade está muito longe de ser transformada. Quanto vale a extinção de um grupo da sociedade para ser critério de noticiabilidade?
Hoje, a maior parte da população tem acesso a algum meio de comunicação que transmite informação. Os Guaranis Kaiowás fazem parte de um dos grupos mais marginalizados da sociedade e o que está acontecendo no Mato Grosso é de grande importância para todos nós. Quantos brasileiros sabem o que está acontecendo ou souberam de notícias por meio da mídia televisiva? Os noticiários nos bombardeiam a todo instante com o furacão Sandy e a devastação que tem causado em vários países, ou ocupam parte da programação falando sobre o emagrecimento das celebridades.
Enquanto isso, escondem o que se passa no interior no país. A quem a nossa comunicação serve? Somos bombardeados com a grande quantidade de notícias que nos levam a acreditar que estamos informados, mas na verdade não sabemos quase nada do que se passa no país. A comunicação no Brasil hoje é em sua maioria privatizada, comandada por grandes conglomerados, deixando de lado o seu caráter de servir a sociedade, para servir aos interesses do mercado. O caso dos Guarani- Kawioás não teve nenhum espaço significativo na mídia televisiva, meio de comunicação que atinge o maior número de lares e espaços na sociedade. Nos grandes jornais, são recorrentes matérias sempre criminalizando o movimento indígena, favorecendo o ponto de vista dos latifundiários.
O grande poder de comunicação das redes sociais, através da internet, embora ainda restrito, contribuiu decisivamente para que tal acontecimento ganhasse visibilidade, de outro modo, ainda estaria distante do conhecimento público. As simples, mas significativas ações através das redes sociais online Facebook e Twitter ganharam forças. Nestes ambientes textos foram compartilhados, redes se formaram e os usuários colocaram entre os seus sobrenomes Guarani Kaiowá, uma referência às batalhas travadas por esta etnia. Quando as pessoas se deparam com algo novo procuram informar-se o porquê aquilo tem se repetido tanto naquele ambiente, acabam, de maneira alternativa à grande mídia, chegando até a informação. Estas campanhas, aliadas a outros processos de luta, servem como uma alternativa contra-hegemônica aos grandes grupos de mídia corporativista, que insistem em manipular e distorcer fatos em favor de seus interesses.
Com a ajuda desse processo de “fura mídia” tivemos uma vitória parcial que é a liminar da Justiça Federal que proíbe, por hora, a expulsão dos índios de suas terras próximas ao rio. A luta não acabou, devemos continuar pressionando para que suas terras sejam demarcadas. A ENECOS também é Guarani-Kaiowá, a ENECOS também é índio.
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Nós repudiamos a pouca abordagem dos grandes veículos a respeito desta temática. A ENECOS luta por uma comunicação verdadeiramente democrática e popular e apoia a luta pela autoderminação dos povos indígenas e a sua participação para elaborar e construir o universo midiático nacional a partir do seu olhar.
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Todo apoio a luta dos Guaranis-Kaiowás!
Todo apoio a resistência indígena!
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Somos todos Guarani-Kaiowá!
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